Desde 2012, quando eu estava meio jururu com o término de um namoro e uma amiga sugeriu que eu assistisse a Modern Family, recomendo essa série para todo mundo que está precisando de algumas gotinhas de ternura na vida. Já assisti às dez temporadas mais vezes do que deveria e, pasmem: segue funcionando. Apesar de ter seus problemas, ela sempre anima meu humor. Em 2023, eu finalmente encontrei uma boa substituta.
Em Ted Lasso, original Apple TV, um treinador de futebol americano é convidado para treinar um time de futebol da Inglaterra. Seria uma péssima ideia (os dois esportes são totalmente diferentes), se a contratação não fosse justamente por esse motivo. Rebecca, dona do AFC Richmond, quer se vingar do ex-marido, um torcedor fanático, destruindo a sua equipe do coração. Acontece que Ted é mais carismático do que o planejado e, a partir daí, se desenrola a trama que, ao contrário do que possa parecer nesse resumo, é mais sobre relações humanas, imperfeições e amizade do que sobre o esporte.
Modern Family e Ted Lasso me fizeram chorar na mesma medida que me fazem rir. Abordam problemas comuns a qualquer pessoa, terminam seus episódios com soluções que, nem sempre são felizes, mas são satisfatórias e têm o grande atrativo de fazer com que espectador se sinta acolhido. Os personagens são imperfeitos, erram, acontecem coisas ruins com eles, mas, de alguma forma, seguem em frente com o apoio de quem está ao redor. São séries beeem diferentes, mas se enquadram num modelo cada vez mais raro nas produções badaladas: entregam entretenimento sem tanta pretensão. Você senta para assistir sem medo de ser surpreendida por uma violência repentina, um drama pesado.
Faz um tempo que não consigo acompanhar o que há de ~imperdível~ no streaming (vide nome desse projeto). Já me achei meio burra por assistir a alguns episódios de produções que todo-mundo-ama e não conseguir seguir em frente. Aos poucos, fui até criando uma resposta-padrão para insistência dos amantes de um bom drama violento ou de mais uma produção com gente rica detestável fazendo coisas detestáveis. Costumo dizer que “só vejo séries bobas com duração máxima de 40 minutos por episódio”. A real é que existem momentos para todo tipo de conteúdo. O fim de um dia bombardeado por notícias de guerra, aquecimento global e desigualdade social, não é o momento de me encher de mais raiva e angústia. Que bom é encontrar outra realidade representada na TV, para variar. Assistam Ted Lasso e me recomendem séries leves. A gente precisa delas. :)
O QUE LI E INDICO:
Esforços Olímpicos, Anelise Chen
Mistura de ficção e ensaios, Esforços Olímpicos desconstrói a ideia de que os atletas são movidos pela persistência. O livro tem boas reflexões sobre a realidade do meio esportivo. Gostei muito!
Sul & Oeste, Joan Didion
Joan Didion consegue escrever sobre qualquer coisa de um jeito interessante. Nesse livro, estão anotações sobre a viagem que ela fez com seu marido pelo Sul dos EUA pouco tempo depois do fim das leis de segregação racial e algumas páginas sobre a Califórnia. É legal, mas gosto mais de O Álbum Branco e Rastejando até Belém.
Cacau, Jorge Amado
Uma confissão: eu não gosto muito dos livros do Jorge Amado. Apesar de reconhecer tudo que ele construiu, não é o meu estilo preferido. Mas, de Cacau, eu gostei. Uma de suas primeiras publicações, fala das condições dos trabalhadores nas fazendas de Cacau, na região de Ilhéus. Vale a leitura.
(Visitei a casa onde ele morou na infância e publiquei a coleção de obras traduzidas dele e da Zélia que estão expostas lá. O post flopou e apareceu para pouquíssimas pessoas. Se quiser ver, clica aqui).
Latim em Pó, Caetano W. Galindo
O favorito do mês. Latim em Pó é um passeio pela formação da língua portuguesa falada no Brasil. Partindo das antigas civilizações até chegar à formação atual do Brasil, o autor apresenta a tese de que o nosso português é resultado de muitas culturas. Gostei muito e tô até mais à vontade para ferir a gramática ou usar termos como jururu nos meus textos. Ó um trechinho legal:
DIRETO DA PASTA DE SALVOS:
Um texto da Bárbara Bom Ângelo sobre um tema parecido com o dessa newsletter.
A lista de filmes para quem ama ler, da Antofágica. (Assisti O Clube de Leitura de Jane Austen e adorei.)
Livros que voltaram para o catálogo da Companhia das Letras.
A lista da news Maratonar, da Folha, sobre filmes com viagem no tempo.