Talvez por ter crescido numa cidade sem livrarias e usando muito a biblioteca, ou por ter sofrido carregando caixas de livros nas últimas mudanças, carrego certa culpa quando olho para minha estante cheia de exemplares que foram lidos somente uma vez. Foi num desses episódios de “meu-deus-pra-quê-tanta-coisa”, que decidi voltar a usar mais a biblioteca pública.
De todos os benefícios que o novo hábito tem trazido, o maior - e mais inesperado - é o gostinho de liberdade na hora de escolher o que vai voltar comigo para casa. A pandemia me fez esquecer que escolher um livro para ler é muito diferente de escolher um livro para ter. Sem compromisso financeiro ou espacial (!!), dá para arriscar mais, tentar um genêro novo ou ler um título que gerou opiniões controversas e você não está muito segura sobre investir seu suado dinheirinho nele.
Meu ano de descanso e relaxamento, da Otessa Moshfegh, é um desses casos. Em 2019, quando foi lançado no Brasil pela Todavia, tomou conta do meu feed e também foi febre no ~booktok~ internacional (a arte da capa estadunidense e da foto desse perfil coincidirem é mero acaso). Entre resenhas elogiosas e críticas duras, ficou esquecido na lista de desejados, até que cruzei com esse exemplar disponível para empréstimo.
A história é ambientada na Nova York de 2001 e narrada por uma personagem cujo nome não vamos conhecer. Órfã de pais ricos, linda e muito deprimida, ela decide desistir do emprego em uma galeria de arte e passar um ano “hibernando”. Não se trata do desejo de acabar com a própria vida. É uma tentativa de recomeço.
Para colocar o plano em prática, encontra uma psiquiatra disposta a prescrever altas doses de remédios para dormir em combinações pouco convencionais. Os períodos de sono ficam cada vez mais duradouros e são entrecortados por intervalos em que a personagem se alimenta mal, recebe visitas de uma “amiga” que trata com desprezo e assiste sempre aos mesmos filmes estrelados por Whoopi Goldberg e Harrison Ford.
Todo esse cenário de auto-destruição, pode fazer parecer que se trata de uma leitura pesada, mas nem é o caso. Otessa consegue criar uma atmosfera de normalização do absurdo que faz a situação soar perfeitamente comum e até divertida. A narradora é sarcástica, cruel e convencida, mas, surpreendentemente, conseguiu despertar a minha empatia.
No fim das contas, gostei bastante, mas vale o aviso de que é preciso um pouco de precaução. A quantidade de informações sobre dosagens e nomes medicamentos disponíveis no mercado para se ter um apagão é grande (embora nem todos existam). Leiam com responsabilidade! rs
DIRETO DA PASTA DE SALVOS:
Tenho tentado muito fugir da
comodidadede fazer tudo de casa e me identifiquei muito com este texto da Luisa Manske.Uma lista de bibliotecas públicas em BH. Tenho usado a Biblioteca Pública de Minas Gerais, que além de ter um ótimo acervo, é linda. A área de empréstimos fica no anexo e, para fazer a carteirinha, basta levar documento de identidade, CPF e comprovante de endereço.
Adorei a reflexão sobre a diferença entre escolher um livro para ler e para ter. Fiquei lembrando aqui da quantidade de coisa diferente que eu lia quando só usava a biblioteca e agora, com mais livros comprados. É muito louco o quanto a gente se limita nas escolhas quando envolve o dinheiro, né :O
Fico feliz que tenha se identificado com o texto da Andanças, Iara! Super obrigada por mencionar nos links <3
iara, eu não sabia que você é de bh. adorei!