Levei alguns aninhos para descobrir que falar é meu jeito de elaborar e encontrar respostas que eu nem sabia que sabia. E isso serve para tudo. Desde as coisas mais complexas, até as mais banais, como fazer um trabalho ou entender porque eu gosto de algo. Sei também que essa fórmula não funciona para todo mundo. E, por isso, adoro ouvir (ou ler) sobre os métodos que cada um usa para chegar às suas respostas.
Em Por que escrevo, ensaio publicado no livro Vou te dizer o que penso, (tradução da Mariana Delfini), Joan Didion conta que escrever desempenha esse papel na vida dela. O texto é lindo, tem exemplos de processo criativo e o mais legal: faz todo sentido para entender os temas e o estilo de sua escrita. Achei que valia a pena trazer os meus grifos favoritos para cá:
“Escrever é, em muitos aspectos, o ato de dizer eu, de se impor em relação às outras pessoas, de dizer me escute, olhe para isso do meu jeito, mude de ideia.”
“Como muitos escritores, tenho esse único tema, essa única área: o ato de escrever. Não posso dar notícia de nenhum outro fronte. […] Nos anos que frequentei Berkeley, eu tentei, com uma espécie de energia desesperançosa de uma adolescência tardia, negociar um visto temporário para o mundo das ideias, forjar para mim uma cabeça que conseguisse lidar com o abstrato. Em resumo, tentei pensar. Falhei. A minha atenção dava uma guinada inexorável, voltando-se para o que era específico, tangível, para aquilo que, de modo geral, era considerado […] periférico. Eu tentava refletir sobre a dialética hegeliana e me pegava concentrada em uma pera florescendo do lado de fora da minha janela e na maneira peculiar como as pétalas caíam no chão. ”
“Se eu tivesse sido abençoada com uma via de acesso, ainda que limitado, à minha própria mente, não teria havido motivo para escrever. Escrevo exclusivamente para descobrir o que estou pensando, o que estou observando, o que eu vejo e o que isso significa. O que eu quero e o que eu temo.”
“A gramática é uma música que sei de cor, uma vez que, aparentemente, eu não estava na escola quando mencionaram as regras. Tudo que sei de gramática é que ela tem um poder infinito. Mudar a estrutura de uma frase altera o sentido dela tão definitivamente e irredutivelmente quanto uma mudança na posição de uma câmera altera o significado do objeto fotografado. Hoje muita gente tem conhecimentos sobre ângulos de câmara, mas não são muitas as pessoas que conhecem as frases. A organização das palavras é relevante, e a organização que você quer pode ser encontrada na imagem da sua cabeça. A imagem define a organização. A imagem define se essa frase vai ter ou não orações subordinadas ou coordenadas, se vai ser uma frase que termina forte ou uma frase que desvanece, curta ou cumprida, na voz ativa ou passiva. A imagem lhe diz como organizar as palavras e a organização das palavras lhe diz ou me diz o que está acontecendo na imagem. Ela lhe diz. Não é você que diz a ela.”
5.
Sobre o processo criativo de um de seus livros de ficção:
“Quem era esse narrador? Por que esse narrador estava me contando essa história? Vou contar a vocês uma coisa a respeito de por que escritores escrevem: se eu soubesse a resposta para alguma dessas perguntas, eu nunca teria precisado escrever um romance.”
DIRETO DA PASTA DE SALVOS:
A lista de concorrentes ao International Booker Prize, que inclui o brasileiro Torto Arado. :)
Uma jibóia vivendo em um galinheiro e uma nostalgia dos tempos de MTV, no maior podcast que temos, o Rádio Novelo Apresenta.
Leia como um artista, do Austin Kleon (em inglês).
Ainda sobre processos criativos, adoro esse episódio do Bobagens Imperdíveis:
Adorei seus grifos <3